sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Caráter e Dons


Há uma distorção que tem assolado a igreja do Senhor durante séculos, e parece que isso tem se intensificado cada vez mais nesses últimos tempos: a valorização dos dons em detrimento do caráter da pessoa. Um dom é uma dádiva de Deus, que o concede a todos, indistintamente.

Os dons podem ser naturais ou espirituais. Os dons naturais são aqueles com os quais nascemos: inteligência, astúcia, memória, capacidade de tocar, cantar, praticar determinados esportes e por ai vai.

Os dons espirituais nos são concedidos pelo Espírito Santo como instrumentos para serem usados em sua obra (1 Co 12:7-10). E é incrível como algumas pessoas usam seu dom como carta de apresentação, como um coringa do baralho: “Me deixe pregar aqui e você verá como Deus usa os meus dons.”, dizem alguns muitos por aí Os dons são muito úteis, mas são secundários. Deus toca em primeiro lugar a vida e o caráter. Todos podem achar que um determinado irmão que possui uma grande inteligência e capacidade extraordinária de memorização deverá se tornar um grande pregador. Isto é um tremendo equívoco, para não dizer uma tremenda falta de discernimento espiritual e nada mais é que uma mentalidade mundana.

A igreja de Deus não é edificada com essas coisas. Se tal irmão possuir vida de Deus, mas ainda não se converteu de verdade, ainda não passou pelo processo de libertação verdadeira, não será útil para Deus, apesar de seu dom.

Quantas vezes vemos uma pessoa que era cantora mundana se converter e logo em seguida, ser colocada para ministra no altar, sem sequer ter sido tratada? Conheço a história de um irmão que se converteu, era cantor do mundo e logo na semana seguinte à sua conversão ele foi colocado para ministrar, pois o líder dele achava que Deus tinha pressa em usar o dom que ele possuía. Realmente ele tem uma voz excelente, mas a falta de vergonha desse líder, só interessado em mostrar números (esse ponto dá outra ministração), fez com que o irmão se desviasse e hoje está muito pior que antes.

Outra pessoa pode ainda pensar que um irmão, por ter um dom de cura e discernimento de espíritos, venha a ser uma coluna na casa de Deus. Isso também é engano. Os dons são úteis, mas nunca podem ser à base da obra de edificação da igreja e creio que Deus também não permite que isso aconteça,Ele tira do nosso meio essas pessoas que pensam assim.

Este é o motivo pelo quais tantos escândalos acontecem: priorizamos o dom ao invés do caráter. Os dons, sejam espirituais ou naturais, devem passar por uma conversão, uma libertação e purificação antes de serem úteis.

O ministério é edificado sobre o caráter e não sobre os dons. Deus nunca vai enviar alguém sem antes ter tratado o caráter da pessoa. Lembre-se: os dons atraem HOMENS e o caráter atrai DEUS.

No livro de Êxodo, encontramos um exemplo clássico do equívoco em se priorizar os dons. A palavra do Senhor diz que o povo de Israel estava sendo escravizado por faraó. Moiśes era o homem que Deus havia escolhido para levar a cabo o seu propósito. Moisés havia sido criado no palácio de faraó e recebeu a melhor instrução da época, era um homem excepcionalmente talentoso. O próprio Moisés tinha algum entendimento desse fato e, em certo momento, se dispôs ele mesmo a libertar o povo da escravidão ( Êx. 2:11-15). Moisés se achava capaz e perfeitamente habilitado porque possuía a instrução egípcia. Deus, porém, coloca Moisés de molho por quarenta anos no deserto de Midiã, até que o seu caráter pudesse ser aprovado por Ele. Do ponto de vista natural, Moisés já estava pronto aos quarenta anos, quando matou o egípcio, mas do ponto de vista de Deus, precisou de outros quarenta anos até não mais confiar na sua força ou em seus talentos (Êx. 3:10).

Quanto mais um homem confiar em si mesmo, nos seus talentos naturais, menos utilidade terá para Deus. O critério de Deus é sempre escolher o que se acha frágil, incapaz e desqualificado. A glória de Deus se torna manifesta quando as pessoas a quem não reputávamos qualquer valor se levantam em poder e autoridade. Fica notório que Deus é quem faz e não é um simples uso de talentos espirituais.

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