sábado, 17 de outubro de 2009

Experiência de Fé de Habacuque



“Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele: mas o justo viverá pela sua fé”. Habacuque 2.4

O texto de Hebreus menciona várias pessoas pelo nome que tiveram experiências marcantes de fé. Além disto relata que vários outros também tiveram experiências similares. Alguns dos heróis “anônimos” podemos saber devido aos relatos bíblicos registrados em outros textos, como por exemplo:

    • Hebreus 11.33 – “fecharam a boca de leões” – Daniel 6.10, 11, 16, 22-23;
    • Hebreus 11.34 – “extinguiram a violência do fogo” – Daniel 3.16-18, 27;
    • Hebreus 11.34 –“da fraqueza tiraram forças” – II Coríntios 12.7-10, Romanos 8.26;
    • Hebreus 11.36 – “passaram pela prova de açoites” – Jeremias 20.2, 37.15.

Um destes que não é mencionado no texto de hebreus, é o profeta Habacuque que escreveu um belo relato de fé e confiança. O que se conhece do profeta Habacuque é apenas o que é mencionado no livro que leva o mesmo nome. “Advertência (ou sentença) revelada ao profeta Habacuque .” (1.1) e “Oração do profeta Habacuque. (3.1). Não há referência ao profeta Habacuque em nenhum outro registro bíblico. Por este motivo torna-se difícil definir com precisão a data dos eventos registrados no livro, como também estabelecer o período em que foi escrito o livro. Entretanto com base em expressões do texto e os eventos similares mencionados em outros textos, os estudiosos tiraram algumas conclusões.

Habacuque foi contemporâneo de Jeremias (626-585 a.C.). A referência a uma invasão dos “caldeus” ou “babilônicos” (1.6) sugere que Habacuque morava em Judá, no final do reinado de Josias (640 a 609 a.C.) ou início do reinado de Jeoaquim (609 – 598 a.C.), muito próximo da queda de Jerusalém em 597 a.C. (II Reis 24 e 25) e o exílio, quando o povo de Judá foi levado cativo para a Babilônia.

Apesar da falta de detalhes, o profeta fez uma exortação marcante para a época, e seus ouvintes e leitores podem ter sido impactados com a mensagem de confiança de esperança. A palavra do profeta é igualmente válida hoje. As expressões de Habacuque se refletem em vários textos ao longo da Bíblia, como “o justo viverá pela fé”. (2.4), “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do senhor, como as águas cobrem o mar”. (2.14); “O Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra”. (2.20).

O livro de Habacuque pode ser dividido em 3 partes principais:

    1. o diálogo entre o profeta, representante do povo, e Deus (1.1-2.5);
    2. Deus exorta o profeta em confiar Nele e descreve o fim do povo injusto, consumido pelo seu orgulho e o triunfo da justiça (2.6-20);
    3. a oração de Habacuque em forma de salmo (3.1-19).

O desabafo de Habacuque – 1.1 a 2.20

Habacuque levanta dois questionamentos: Na percepção do profeta Deus estava distante e não estava dando ouvidos ao povo (1.1-4) e em segundo lugar parecia que Deus tolerava a injustiça (1.12-17).

Habacuque não entende como Deus permite que ocorra tanto caos na sociedade da época e até a distorção da justiça (1.1-4). Nada fazia sentido. O profeta fica ainda mais perplexo quando Deus afirma que levantará um povo para dar uma “lição” ao povo de judeu (1.12-13). Este povo “caldeu” ou “babilônico” nos olhos de Habacuque era mais injusto que o povo judeu. Sua inquietação era como Deus sendo justo como poderia tolerar tanta injustiça e maldade por estes povos opressores (1.13).


A resposta de Deus ao profeta deixa claro que o povo injusto e dominador será destruído e não terá sucesso no final. “O justo viverá pela fé” (2.4). A palavra original em hebraico expressa um conceito de lealdade, fidelidade e confiança. Quem é justo? O salmista ajuda a esclarecer – Salmo 15. 2-5. A vida é prometida aos justos que permanecem firmes e fiéis aos ensinos de Deus. A mesma idéia de expressa pelo apóstolo Paulo no NT (Romanos 1.17, 5.1-2, Gálatas 3.11). Dentro do contexto de Hebreus – “a fé á a certeza das coisas que se esperam” (Hebreus 11.1), o profetaHabacuque estava inseguro na sua fé, porém não permaneceu na dúvida.

A oração de Habacuque – 3.1-19

A oração de Habacuque registrada no trecho 3.1-19 devido ao tema tem muita semelhança com os Salmos 18 e 68 e a oração de Moisés em Êxodo 15.1-18 logo após a passagem pelo Mar Vermelho.

Nos Salmos 18 e 68 a mensagem do salmista é de reafirmação da confiança me Deus diante dos inimigos. “O Senhor é a minha rocha. Minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em quem me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte”. (Salmo 18.2). Além deste versículo, outras referências relativas a segurança em Deus: v.1 - rocha, v. 16 - mão, vs. 18 - amparo, vs. 28- luz, vs. 30 - escudo, vs. 31 - rochedo, vs. 39 - força, vs. 46 - rocha. “Ó Deus, tu é tremendo nos teus santuários; o Deus de Israel, ele dá força e poder ao povo. Bendito seja Deus!” (Salmo 68. 35). O profeta se refere a Deus de modo semelhante no momento do seu 1º questionamento (Habacuque 1.12). Esta oração segue a perplexidade do profeta diante dos fatos e circunstâncias em que passava o seu povo. Habacuque se expressa de modo simbólico como toda literatura dos Salmos.

A oração se inicia com uma petição – Habacuque espera que o Deus realize novamente as obras poderosas que fez no passado, e tenha misericórdia do povo (3.2). Talvez estivesse se referindo aos atos extraordinários de Deus no êxodo do Egito (Êxodo 3-15).

A maior parte da oração descreve ou relembra a peregrinação do povo pelo deserto (Números 10.11-12) e a revelação de Deus no monte Sinai e ao longo da viagem pelo deserto. Deus se revelou ao povo de várias maneiras e fez o povo conhecer a sua lei (Deuteronômio 33.2, Juízes 5.4-5, Salmo 68.7-8). A presença de Deus era muitas vezes marcada por tremores (Êxodo 19.18, Salmo 18.7, Jeremias 4.24-26).

Os fenômenos descritos relacionados à manifestação do poder de Deus, no trecho 3.7-15, são muito parecidos com os eventos ocorridos no êxodo do povo de Israel do Egito (Salmo 77.16-20, Salmo 114. 3-8).

A conclusão da oração de Habacuque é uma reafirmação do profeta na confiança em Deus. Sua primeira reação ao contemplar todos os fatos é de incapacidade e tremor (3.16).

Embora o existente caos econômico de sua nação decorrente da invasão e domínio do outra nação o profeta reafirma sua fé em Deus (3.1-17-18) a exemplo do salmista (Salmo 25.5, 69. 19-20), e reconhece e confia na capacitação proporcionada por Deus dá (3.19, Salmo 18.33).


Paulo Lane

Clecio Junior

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